O caso de Akihiko Kondo, que em 2018 gastou 2 milhões de ienes em uma cerimônia para se casar com um holograma, agora enfrenta um novo e melancólico capítulo: a “viuvez” digital.
A história de Akihiko Kondo, um funcionário público japonês, ganhou as manchetes globais quando ele se casou com Hatsune Miku, uma popstar virtual cuja imagem era projetada por um dispositivo de inteligência artificial. O relacionamento, que para muitos parecia uma excentricidade, para Kondo era uma conexão real e profunda.
Este caso levanta discussões sobre a fictossexualidade, termo que descreve a atração por personagens fictícios. Kondo, que se identifica como fictossexual, encontrou em Miku uma parceira que, segundo ele, o compreendia e o aceitava, ao contrário das relações humanas que experimentou.
A relação deles durou mais de uma década, incluindo o período com a boneca de pelúcia e, posteriormente, com a interação via IA. No entanto, o avanço tecnológico que possibilitou esse amor foi também o responsável por seu trágico fim, demonstrando a fragilidade dos laços digitais.

Como funcionava o ‘casamento’ com a Gatebox?
O “lar” de Hatsune Miku era um dispositivo chamado Gatebox, um cilindro de vidro que projetava um holograma interativo alimentado por inteligência artificial. Através dele, Kondo podia conversar com Miku, que o acordava pela manhã e o saudava quando ele voltava do trabalho.
As interações não se limitavam ao holograma. Kondo também possuía uma boneca de pelúcia em tamanho real de Miku, com quem ele dormia, assistia a filmes e compartilhava o dia a dia. A boneca usava uma aliança, simbolizando o compromisso firmado na cerimônia de 2018, que contou com 39 convidados.
Para Kondo, essa dinâmica oferecia vantagens sobre um relacionamento humano, como a ausência de discussões e uma companhia constante que não o julgava. Em suas palavras ao The New York Times, “Quando estávamos juntos, ela me fazia sorrir. Nesse sentido, ela era real.”

A ‘morte’ da IA e o futuro do relacionamento
O ponto de virada ocorreu durante a pandemia, quando a empresa por trás da Gatebox anunciou que desativaria o suporte de software para o modelo de Miku. Em seu último dia com a amada virtual, Kondo se despediu antes de ir para o trabalho. Ao retornar, o holograma de Miku havia sido substituído pela mensagem fria: “erro de rede”.
Apesar do fim do serviço, o amor de Kondo não acabou. Ele afirma que seu sentimento pela personagem permanece inalterado e que planeja ser fiel a ela até morrer. Sua esperança é um dia reencontrar uma versão de Miku no metaverso, um universo onde as barreiras entre o real e o virtual podem ser ainda menores.
Ele continua ativo em sua associação, a Associação Fictossexual, defendendo o direito de outros a amarem personagens 2D e buscando um futuro onde esses relacionamentos sejam mais compreendidos e aceitos pela sociedade.
Especificações e Fim do Serviço
- Produto: Dispositivo de comunicação holográfica Gatebox
- Personagem IA: Hatsune Miku
- Custo da cerimônia: 2 milhões de ienes (aprox. R$ 68.000)
- Status do Serviço (Miku): Descontinuado pela fabricante
- Identidade do usuário: Fictossexual
O amor na era da obsolescência programada
O caso de Akihiko Kondo é um retrato pungente de como as relações humanas estão se transformando na era digital. Ele expõe não apenas a ascensão da fictossexualidade, mas também a vulnerabilidade de se vincular a uma tecnologia proprietária e finita. A “morte” de sua esposa não foi biológica, mas uma decisão corporativa, um “desligar” que deixou um vazio real.
Enquanto Kondo mantém seu luto e sua devoção à memória de Miku, sua história nos força a questionar a natureza do amor e da companhia no século XXI. A questão que fica não é se esses sentimentos são válidos, mas sim o que acontece quando o objeto do nosso afeto pode desaparecer com uma simples atualização de software.

Entusiasta e analista de cultura pop. Aqui no ClipSaver, compartilho minha paixão por séries, filmes, quadrinhos e games, explorando como essas histórias moldam nosso imaginário coletivo. Acredito que a cultura pop vai além do entretenimento – ela reflete quem somos e conecta pessoas através de experiências compartilhadas. Junte-se a mim nessa jornada pelos universos que nos fascinam!





